EMPRESA FAMILIAR, INFORMAÇÃO E CONSULTORIA

 

Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá

 

 

 

A opção sobre a forma de constituir um negócio pode ser a responsável pelo destino do mesmo.

O sucesso sobre o caminho eleito depende de competente relacionamento com o pessoal e uma adequada gestão de um capital bem dimensionado.

A aspiração em conseguir um objetivo depende do planejado, mas, requer organização e uma ação pertinente e lúcida no sentido de bem utilizar-se de tais instrumentos.

Ou seja, não basta ter planos, necessário sendo munir-se de meios aptos para a consecução dos mesmos.

Minha prática profissional ensejou-me lidar com inúmeros empreendimentos, oferecendo-me ocasião de perceber a diferença que existe entre “ter vontade” e “possuir capacidade” perante factibilidade do pretendido.

O importante se encontra na “aptidão em gerir pessoas e riquezas”, quer por cultura própria, quer pela requerida a especialistas.

A questão não está em periferia, mas, na essência do governo de pessoas e riquezas.

Assim, por exemplo, as condenações técnicas feitas sobre as empresas familiares eu sempre as tive como injustas.

Se em tal grupo grande é a mortalidade de empreendimentos, no mesmo, também, vários são os bem sucedidos; no Brasil, por exemplo, hoje o total de empresas familiares e menores ultrapassa a cinco milhões, sendo tal modalidade de empreendimento deveras comum, com organizações prósperas e não prósperas.

Algumas pequenas, outras médias, mas várias das referidas chegaram a alcançar um porte considerável.

No Brasil, por exemplo, para citar apenas três exemplos: VOTORANTIN, EMPRESA DE TRANSPORTES ATLAS e a ODEBRECHT, gigantes como indústria e prestadora de serviço, foram geradas e se mantêm em grupo de família.

O demérito que alguns autores atribuem às pequenas empresas constituídas por familiares não me parece um fundamento sustentável se analisada for a prosperidade como meta.

Os problemas indicados pelos críticos situam-se nas áreas das sucessões (com o crescimento da família), vocações ao paternalismo, nepotismo, transgressão a um rigor disciplinar, conservadorismo, mas, são todos superáveis mediante uma boa orientação contábil e administrativa.

Os preços das consultorias os censores as incluem entre os óbices; alegam que bons profissionais exigem altas remunerações e que estas ficam fora do alcance dos menores empreendimentos.

Tal fato se fosse verdade absoluta, realmente se transformaria em muralha intransponível e não estaria hoje em curso de nova visão.

O mercado de trabalho profissional da atualidade, todavia, muito se tem modificado e a própria conscientização dos contadores no sentido de que devem ser orientadores das empresas, está alterando o cenário.

Diversas empresas contábeis, vários profissionais, dedicados à produção de escritas, cumprimento de obrigações fiscais e trabalhos afins, gradativamente assumem como dever ético o da “consultoria” permanente.

É fator que hoje determina a qualidade de um escritório de Contabilidade o oferecer não só a informação, mas, produzir explicações sobre o que se acha registrado.

Grande parte dos empresários menores, das empresas de família, pouco sabe analisar a real significação das demonstrações contábeis que lhes são apresentadas.

Conhecer apenas que foi gasto certo valor em despesas administrativas, por exemplo, não basta; é imprescindível saber se tal gasto é ou não compatível com a estrutura da empresa, se suportável ou não, se eficaz ou ineficaz.

Sugerir, pois, sobre: limites de aquisição de máquinas e equipamentos, compras de mercadorias, cessão de créditos, custos, gastos complementares etc. é ensejar que se evitem desequilíbrios e que estes venham a ser causas de insucesso ou até de fechamento da empresa.

Nesse sentido é aprazível verificar que está existindo melhor compreensão sobre a necessidade referida e que a pertinente motivação a tem assumido lideres classistas.

Importantes entidades estão a incentivar tal ampliação de utilidade do trabalho contábil, como, por exemplo, estão a fazer em Portugal a CTOC – Câmara de Técnicos Oficiais de Contas, sob a liderança de António Domingues Azevedo, e, no Brasil, o Conselho Federal de Contabilidade, presidido pela professora Maria Clara Cavalcante Bugarim.

Ao comentado se soma, todavia, a necessidade de que a educação profissional, a atuação das entidades de classe profissional, empresária, o próprio Poder Público, atuem no sentido de fazer que se entenda que a informação é apenas parte de um processo, que a explicação e interpretação sobre a mesma é um dever inerente à função contábil.

 
*Autor: Antônio Lopes de Sá
Contato: lopessa.bhz@terra.com.br
 

Doutor em Letras, honoris causa, pela Samuel Benjamin Thomas University, de Londres, Inglaterra, 1999 Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade Nacional de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, Rio de Janeiro, 1964. Administrador, Contador e Economista, Consultor, Professor, Cientista e Escritor. Vice Presidente da Academia Nacional de Economia, Prêmio Internacional de Literatura Cientifica, autor de 176 livros e mais de 13.000 artigos editados internacionalmente.