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02/12/2010
Aluguel sobe mais que renda do brasileiro
 
(Brasil Econômico) Em três anos, o empresário Arthur Freire viu o aluguel do apartamento onde mora subir 53%.

O valor do imóvel de 54 metros quadrados que alugou com a sua esposa, na região central da capital paulista, passou de R$ 1,3 mil por mês para R$ 2 mil, comprometendo uma parcela cada vez maior da renda familiar, até atingir o patamar de 40%.

Com o custo pesando mais no bolso, há seis meses Freire começou a procurar um novo imóvel para morar.

Quando sua irmã lhe avisou de uma vaga no prédio onde ela morava - com o dobro da metragem - o empresário foi negociar o aluguel com o proprietário. O valor cobrado da irmã é de R$ 1,6 mil. O proprietário, porém, pediu R$ 1,8 mil pelo outro apartamento.

"Tentei negociar, mas não recebi retorno. Tive de correr atrás da imobiliária, que fez pouco caso da oferta. A impressão que tenho é que a procura é tanta que eles não precisam se esforçar pelo cliente. Como tem pouco imóvel em relação ao número de pessoas que querem alugar, perdi a voz ativa nas negociações", afirma Freire.

Nas alturas

Acompanhando a valorização do preço do imóvel, o aluguel cresceu 24% nos últimos três anos em todo o país. Em algumas regiões, contudo, a variação foi superior à expansão do rendimento real do brasileiro.

No estado de São Paulo, o aluguel cresceu 51% no período, enquanto o rendimento subiu 36%.

Já no Rio, o aluguel teve alta de 57% nos últimos doze meses (único histórico disponível) - enquanto o rendimento apresentou elevação de 13% nesse intervalo. Os dados são do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais (Secovi) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O crescimento da renda está pressionando o valor do aluguel. O mercado imobiliário ficou muito tempo estagnado, com baixos investimentos. Desta forma, a oferta não conseguiu acompanhar a forte alta da demanda, o que recaiu sobre os preços", analisa o economista Fernando Garcia, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ele ressalta que o imóvel vendido ainda na planta na capital paulista valoriza-se em torno de 3% ao ano desde 2007.

"Se o imóvel novo está mais caro, isso puxa o preço do imóvel mais velho e, consequentemente, do aluguel, que é uma espécie de juros sobre o uso da habitação", complementa.

O imóvel, por sua vez, está cada vez mais caro por conta da crescente oferta de crédito no mercado, um fator cujo peso passou de 3% para 5% do PIB em dois anos.

Programas como o Minha Casa, Minha Vida, contribuíram para a expansão do crédito e, consequentemente, para a especulação de pequenos investidores, ,que compram um imóvel na planta com o objetivo de alugá-los para terceiros.

"São investidores de pequeno porte, geralmente da classe C. Isso não é ruim para o mercado, pois eles se tornam uma fonte de financiamento extra para os imóveis novos e estimulam a oferta", pondera Garcia.

No caso do Rio de Janeiro, outro fator que contribuiu para a valorização do aluguel foi a instalação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) em regiões de alto índice de violência.

"Bairros como a Tijuca e Botafogo, muito desvalorizados pela falta de segurança, são hoje mais demandados por conta das UPPs. Já os eventos esportivos, como Copa e Olimpíadas, estão atraindo muitas pessoas para o Rio, o que contribui para o aumento considerável dos imóveis e, consequentemente, dos aluguéis", explica Antonio Paulo Monnerat, vice-presidente de Locação do Secovi-RJ. Carolina Alves
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