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14/12/2010
Brasil amplia acordo e faz frente "anti-China"
 
(DCI - SÃO PAULO) - Ampliar mercados com o objetivo de explorar a indústria brasileira e expandir as exportações é o ponto de vista do governo brasileiro que irá assinar um acordo amanhã com mais 10 nações em desenvolvimento, para redução das tarifas de importação praticadas nas trocas de mercadorias entre si.

Trata-se do protocolo final da Rodada São Paulo do Sistema Global de Preferências Comerciais entre Países em Desenvolvimento (SGPC), que prevê a redução em 20% das alíquotas de importação para 70% dos produtos negociados dentro do grupo composto pelos países do Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai - mais a Índia, Indonésia, Malásia, Coreia do Sul, Egito, Marrocos e Cuba.

Segundo o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, o acordo deve abrir novas oportunidades de comércio para os produtos brasileiros em destinos até então inacessíveis. Além disso, os 30% de produtos que não possuem o benefício é suficiente para proteger os setores mais sensíveis dessas economias.

No caso do Mercosul, afirmou, a lista de preferências oferecidas ressalva boa parte das indústrias têxtil, calçadista, automobilística e de bens de capital.

"O objetivo não é tanto ampliar o volume naquelas mercadorias que você já exporta, mas é uma ajuda no esforço de diversificar as exportações. Significa uma pequena preferência em relação à China, por exemplo, que te dá vantagem na hora de colocar seus produtos nesses mercados", frisou.

Segundo Cozendey, a cobertura do SGPC era muito pequena, o que transformava o acordo firmado em 1988 em apenas um marco político para a chamada cooperação Sul-Sul, em vez de um verdadeiro acordo de importância comercial. O grupo originalmente formado por 43 países mantinha um sistema de preferências para apenas 651 produtos, mas a partir da Rodada São Paulo o acordo será estendido para 47 mil mercadorias.

Além dos 11 países que participaram da conclusão das negociações, outros poderão se juntar ao acordo assim que apresentarem suas listas de preferências e essas forem verificadas pelo grupo. Segundo Cozendey, Irã e Argélia deverão ser os próximos países a aderirem ao protocolo. As novas tarifas entram em vigor após a ratificação do acordo por pelo menos quatro países e devem valer pelas próximas duas décadas.

Para a professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Oliveira Holzhacker a assinatura do acordo irá beneficiar principalmente o Brasil, pois é o país que possui negócios com todos os outros países que englobam o tratado. "Vamos certamente ter uma entrada maior de alguns produtos que estão na lista do acordo, porém o Brasil irá ampliar sua oportunidade de negócio e ampliará a inserção de produtos nestes países. O único país que pode gerar um impacto maior no Brasil é a Índia", disse a especialista.
Holzhacker frisou ainda que a medida bate de frente com as críticas de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou um baixo número de acordos comerciais para incrementar o comércio brasileiro.

Montadores


O aumento na importação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos e eletrônicos já preocupa o governo. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, ponderou que 70% das compras externas são de bens de capital. Por isso, para o ministro, o aumento das importações é resultado das expectativas de crescimento da produção. Para Miguel Jorge, a entrada destes produtos ameaça transformar alguns setores em "maquiladoras", simples montadoras de equipamentos com partes e peças estrangeiras.

Esse é mais um reflexo do avanço do comércio da China, país, que, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tomou o lugar dos Estados Unidos como fornecedor de produtos de alta tecnologia: de cada US$ 100 importados desses produtos, US$ 24,50 são mercadorias chinesas.

A importação, pelo Brasil, de componentes eletrônicos superou em quase US$ 16 bilhões as exportações brasileiras desses produtos entre janeiro e novembro deste ano. É um aumento de 67% em relação aos quase US$ 9,5 bilhões de déficit na balança comercial de componentes eletroeletrônicos registrados em 2009. "É capa e teclado de celular, tela de televisão, estão trazendo tudo de fora e montando aqui, especialmente em Manaus", comentou o ministro do Desenvolvimento, que vê nesse aumento da importação de produtos eletrônicos um problema a ser enfrentado pelo próximo governo.
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