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29/03/2012
Para onde vai a indústria?
 
São Paulo – A indústria vem perdendo espaço na economia brasileira. No ano passado, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 2,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade cresceu apenas 1,6%, com queda de 0,5% no quarto trimestre. E a tendência é que essa perda de terreno continue. A intensidade e a rapidez com que isso vai ocorrer, porém, dependem do que o poder público e o setor privado vão fazer daqui para frente.

"Acho que haverá uma perda [de espaço da indústria], devido aos problemas do nosso país. Pode ser que a indústria diminua [sua participação] para 90% do ela é hoje, ou 80%, ou 70%, ou 60%, depende da nossa capacidade de reagir", disse Julio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Mesmo com o mercado interno em franco crescimento, os industriais reclamam da falta de competitividade das empresas nacionais frente aos concorrentes estrangeiros, seja lá fora ou aqui dentro, e apontam o chamado "custo Brasil" como principal culpado. O termo abarca problemas como alta carga tributária, custo do capital, encargos trabalhistas em demasia, falta de mão de obra qualificada e infraestrutura precária.

"A demanda por produtos industrializados segue forte no País, mas as empresas brasileiras não a alcançam, e não é de hoje, por questões de competitividade", declarou Flávio Castelo Branco, gerente executivo da Unidade de Políticas Econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Os últimos indicadores colocaram o governo em alerta. Para dar alívio à indústria, foram anunciadas medidas como a ampliação do prazo de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para determinados itens e a desoneração da folha de pagamentos das empresas de certos segmentos, que agora deve ser estendida a outros. Isso, além das ações para conter a valorização do real sobre o dólar. O real em alta faz com que as mercadorias brasileiras fiquem mais caras no exterior e que as importadas tenham preços mais baixos aqui.

Tais medidas são bem-vindas, mas são ações de curto prazo, criadas para dar um impulso temporário às empresas diante de uma conjuntura desfavorável. Servem, segundo Almeida, para dar "isonomia", ou "empatar o jogo" entre o produto brasileiro e o importado, que não paga esses tributos na origem. Faz tempo, porém, que o País precisa de ações de longo prazo para resolver seus problemas estruturais. Para Castelo Branco, são necessárias políticas públicas para "mudar o quadro" do setor.
Mas não é só o governo que precisa se mexer. É consenso entre analistas que tanto o poder público quanto o setor privado não fizeram o suficiente nas duas últimas décadas, desde a abertura da economia brasileira, para dar competitividade à indústria nacional. Hoje isso depende de fatores casuais, como o real desvalorizado, ou um forte crescimento da economia internacional.

É que durante boa parte desse período o mundo estava em crescimento, então havia demanda por produtos de todos os gêneros e origens, e o Brasil ainda não era um mercado tão cobiçado por seus concorrentes. Salvo exceções, muitas companhias mantiveram postura semelhante à que tinham nos tempos em que a economia nacional era fechada, e a indústria, protegida.

"Estávamos acostumados com o governo vir com algum grande programa, jogar dinheiro e, aí, a coisa melhorava", afirmou o professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Evaldo Alves. "Agora isso não basta mais", acrescentou.

É que o mundo mudou, principalmente após a crise de 2008. A economia global não cresce mais como antes e o Brasil passou a ser um mercado muito mais atraente para as indústrias estrangeiras, que passaram a concorrer com as brasileiras também no mercado doméstico, além do internacional.

"O Brasil tem adiado muito a adoção de medidas em áreas estruturais, mas não foi muito grande o sacrifício até agora, porque o mundo crescia, mas hoje não cresce mais", destacou Almeida. "Nós começamos concorrendo com as empresas do primeiro mundo, mas isto está mudando, estamos competindo com os emergentes, entre nós, e o desafio é enfrentar essa nova competição", afirmou Alves.

Só que alguns dos principais concorrentes do Brasil na área industrial, como a China e a Coreia do Sul, têm, e não é de hoje, estratégias econômicas de longo prazo. Com mais competitividade, até empresas brasileiras têm transferido sua produção, ou parte dela, para países asiáticos, sem falar da imensa quantidade de insumos que o País importa.

O diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Cleyton Campanhola, afirmou que o governo pretende formar um "conselho de competitividade", com representantes das empresas para elaborar políticas para a indústria. Mas não basta esperar o governo, as empresas têm que fazer sua parte.

Fonte: ANBA
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